No
próximo dia 21 de junho, o Crato de todos nós vai festejar 250 anos de sua
elevação à categoria de Vila. Daquele 21 de junho de 1764 para o 21 de junho de
2014, o Crato viveu diversas fases na economia, na cultura, na história e na
política.
A
história dos 250 anos, se adotarmos um olhar cronológico, está dividida entre
89 anos de Vila Real e 161 anos de emancipação política. Durante o tempo de
Vila, o Crato atravessou o período do Brasil Colônia e do Brasil Império. Após
a independência do Brasil, em 1822, o Crato conquistou sua emancipação
política, em 1853. Ainda como Vila, o Crato foi cenário da Revolução Pernambucana
de 1817, em terras cearenses, sob as lideranças de José Martiniano de Alencar,
Tristão Gonçalves e da matriarca Bárbara de Alencar, fazendo dela heroína e
referencial de bravura e idealismo libertário.
Os
ideais de independência e republicanismo, difundidos pela independência dos
Estados Unidos e pela Revolução Francesa, foram responsáveis pela eclosão da
Confederação do Equador, tendo entre suas lideranças no Ceará Tristão Gonçalves
de Alencar e ainda motivo de muitas batalhas em terras cratenses. O Crato
também participou de outras refregas políticas quando, em 1914, acolheu as
tropas de Franco Rabelo na Sedição de Juazeiro.
Entre
1926 e 1937, o Crato sediou a experiência comunitária do Caldeirão do Beato Zé
Lourenço que acusado de comunismo sofreu terrível massacre pelas mãos dos
latifundiários e do governo getulista.
Por
está localizado em uma região de maior concentração de chuvas, o Crato foi
escolhido pelo Governo do Estado, na seca de 1932, para sediar uma das mais
terríveis experiências de enfrentamento ao flagelo da seca e para evitar que os
flagelados atingisse a capital do estado. Trata-se dos Campos de Concentração
ou, no caso do Crato, o “Curral do Burity”.
Depois
da emancipação política e até os anos iniciais do século XX, como na grande
maioria dos municípios brasileiros, a economia do Crato era basicamente rural
combinada com um nascente comércio regional. Por ser uma das primeiras Vilas e
Municípios do Estado do Ceará, durante os dois séculos seguintes à sua elevação
à condição de Vila, o Crato foi referência na economia e na educação
interiorana do Sul do Ceará.
A
Igreja Católica tem influência destacada em nova fase do desenvolvimento do
Crato iniciada em princípio do século XX com a criação da Diocese do Crato, em
1914. A instalação de educandários ligados a ordens religiosas, o funcionamento
dos cursos de nível superior no Seminário São José, em 1922 e a criação da
Faculdade de Filosofia do Crato, em 1959 fazem do Crato, que já era líder na
economia regional, também um centro cultural por excelência.
A
ancestralidade do seu povo - índios e negros - explica a riqueza cultura que
encontramos nos grupos tradicionais como a Banda Cabaçal dos Irmãos Anicetos,
Grupos de Reisado e muitas outras expressões da cultura popular e letrada.
Até
meados do século XX a economia se baseava na produção de “cana de açúcar e seus
derivados, principalmente rapadura e cachaça. As principais empresas
industriais estavam vinculadas à fabricação de rapadura, indústria de
panificação, beneficiamento de arroz, indústrias de bebidas, torrefação e
moagem de café, beneficiamento de algodão, extração de óleos vegetais,
aviamento de farinha de mandioca, indústrias tipográficas, indústrias de
produtos alimentícios, indústrias de calçados e outras”. (artigo do professor
João Cesar – URCA)
Com
o declínio das indústrias algodoeira e canavieira na década de 1960, a
tentativa de implantação do chamado Plano Assimov para o desenvolvimento
industrial da região não teve sucesso e novos projetos de desenvolvimento local
ou regional deixaram de ser elaborados e implementados, tendo em vista o modelo
de desenvolvimento concentrado no litoral.
Segundo
artigo do Professor João César, da Universidade Regional do Cariri, “mesmo
nesta década, constatava-se um forte indício de pessoal desempregado e de
subempregados. Acontecia que a população que migrava para a cidade não
conseguia emprego por não haver suporte econômico e social que captasse a
mão-de-obra imigrante, provocando a reprodução das favelas e dos cortiços, com
a presença de uma grande massa de pessoas com rendas baixas que ainda hoje
permanecem na cidade”.
Nas
décadas de 1980 e 1990 revela-se um processo de perda de influência política
que leva o Crato a também perder espaço na liderança enquanto centro comercial
e educacional, mesmo com a criação da Universidade Regional do Cariri, que
completou 28 anos de fundação semana passada. Para alguns, a explicação para a
perda da liderança do Crato na Região do Cariri para Juazeiro do Norte está na
falta de força política e na incapacidade de competir com a vizinha cidade.
Eu
diria que precisamos compreender que vivemos novo momento no Brasil em que o
conceito de desenvolvimento não significa apenas crescimento populacional e
econômico, mas distribuição da riqueza produzida e inclusão da maioria em todos
os aspectos da vida social, cultural e política. Que a recuperação do meio
ambiente degradado e do espaço urbano irregular é indispensável para produzir
desenvolvimento com qualidade de vida. Por esse motivo, projetar o Crato para
os próximos 50 anos passa pelo diálogo permanente das instituições públicas com
a população.
Não
podemos continuar reclamando ou vivendo do passado, precisamos de compromisso
com o Crato para que se construa seu desenvolvimento valorizando sua maior
riqueza, que são suas instituições, sua cultura, sua natureza, sua história e
seu povo. A terra que tem uma história como essa não pode se apequenar. O papel
das gerações que vivem essa data é o de completar essa obra fantástica chamada
Crato, contribuindo para que seu crescimento seja traduzido em bem-estar do seu
povo. E bem-estar está relacionado à qualidade das políticas públicas de saúde
e educação, ao meio ambiente equilibrado, direito ao trabalho e à renda, à
segurança pública, à mobilidade urbana e à ampla democracia.
A
imagem que projeto do Crato que desejo construído é uma urbe que comporte no
atual perímetro urbano e cercada de rios naturais e parques verdes como
extensão da nossa Chapa do Araripe.
Viva
o Crato, viva os 250 anos.
Vereador
Amadeu de Freitas – PT
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